Por Winne Fernandes — Rio de Janeiro, RJ
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Prata na Rio 2016 fala sobre os desafios da maternidade aos 38 anos e sonho de ainda competir no próximo ciclo olímpico, de Paris 2024
De longe pode até ser que alguém se confunda. Ágatha treinando sozinha vôlei de praia? Como assim? Mas não seria uma dupla?. Seria, e é. Dessa vez, de um jeitinho diferente. Grávida de três meses, a medalhista de Prata na Rio 2016 tem treinado nas areias da praia da Barra, zona oeste do Rio de Janeiro, acompanhada seu mais novo parceiro ou parceira – ela ainda não descobriu o sexo do bebê. Aos 38 anos e já com um pouquinho de barriguinha à mostra, ela estreia neste domingo de Dia das Mães e diz gozar de uma plenitude profissional e pessoal jamais sentida antes.
– É um momento muito especial na minha vida, porque a vontade de ser mãe sempre existiu dentro de mim. Mas, eu sempre deixei ela guardadinha porque eu tinha sonhos muito grandes. Primeiro de me fortalecer como atleta, como profissional, ter a chance de chegar a uma Olimpíada. E eu consegui viver os ciclos muito bem vividos. Então ver que eu chego nesse momento da maternidade com uma história muito legal dentro da minha modalidade, que eu atingi os principais objetivos que eu tinha, isso me deixa muito plena – contou.
Ágatha explica que não tinha exatamente planejado ser mãe neste ano de 2022, mas que o fim da parceria com Duda Lisboa após o ciclo olímpico de Tóquio e o insucesso na formação de um novo time potencializaram a ideia de focar na expansão da família. A estrela do vôlei de praia é casada com Renan Rippel, preparador físico de sua equipe.
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– Não foi assim já rapidamente “vou ter um filho”. Naquele primeiro momento eu tentei fazer parcerias pensando no ciclo de Paris. Eu já tenho óvulos congelados desde os 34 anos. Então isso também me deu uma paz para continuar jogando. Meus óvulos estão congelados, me vejo como uma mulher saudável, o Renan também. Então eu achava que poderia engravidar após Paris. Então eu tentei umas parcerias. Como não rolaram, eu continuei treinando e analisando o mercado – conta.
Nesse meio tempo Ágatha acabou engravidando. De uma forma tão “perfeita” que segundo ela lhe permitirá ainda sonhar com pelo menos ainda mais um ciclo olímpico, o de Paris 2024.
– Eu não utilizei os óvulos, foi natural. Aí eu digo que é colocar na mão de Deus, porque foi natural e de fato poderia dificultar a ideia de pensar em Paris. Se fosse, por exemplo, no meio do ano, eu dificilmente poderia falar numa corrida olímpica. Como eu engravidei agora no início do ano, eu vou ter o bebê ainda no segundo semestre. É punk pensar que eu vou ter uma corrida olímpica pela frente com um bebezinho, mas eu tenho esse objetivo. Como vai ser? Eu não tenho a mínima ideia. Eu tenho meus pés no chão. Esse é meu sonho, mas a realidade pode ser bem difícil. Só vivendo para saber. Ter metas na vida é tão gostoso, né!? Faz a gente acordar pela manhã com aquela vontade de viver – vibrou.
Enquanto o bebê não chega, Ágatha tem passado pela transição de atleta para atleta/mãe com toda calma e conhecimento necessários. Com o acompanhamento de uma equipe de profissionais, incluindo a área de ginecologia do esporte do Comitê Olímpico Brasileiro, ela diminuiu, mas conseguiu manter os treinos durante seis dos sete dias da semana – uma mistura de exercícios com bola na praia e academia.
Ágatha também conseguiu manter outros dois pontos fundamentais na vida de um atleta de alto rendimento. O primeiro deles: patrocinadores. O segundo deles e mais recente (2021) conquista das mulheres atletas do vôlei de praia: a manutenção dos pontos 100% no ranking internacional – antes elas voltavam da gestação com 75% da pontuação.
– Eu via como uma punição mesmo, como se a atleta não pudesse ser mãe. Era uma diferença grande de gênero que existia. E agora esse congelamento da pontuação de poder voltar com 100% dá muito mais paz, né?! Estou muito feliz de estar vivendo já a parte boa desta mudança. Estou tendo a sorte de permanecer com alguns patrocinadores neste período, o que não é uma realidade para a maioria das atletas gestantes. Tenho grandes parceiros de mãos dadas comigo também nesta fase, e eu valorizo demais isso. É uma tranquilidade, uma paz, que todas deveriam ter – vibrou.
Vale lembrar que Ágatha terminou a temporada anterior do Circuito Mundial no auge, como campeã ao lado de Duda Lisboa. O bebê dela está previsto para nascer em novembro.
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Fotos: André Durão