Quando se uniram em 2011, com poucos pontos no ranking, disputando um qualificatório para terem a chance de jogar a fase principal da etapa de Aracaju (SE) do Circuito Brasileiro, talvez a paranaense Ágatha e a carioca Bárbara não imaginassem que um dia ganhariam uma medalha olímpica. A união, esforço e cumplicidade, porém, fizeram com que elas conquistassem a prata com gosto de ouro ‘em casa’.
A dupla lutou, mas foi superada pelas alemãs Laura Ludwig e Kira Walkenhorst na decisão dos Jogos Olímpicos do Rio, por 2 sets a 0 (21/18, 21/14), em 43 minutos, na madrugada desta quinta-feira (18.08), ficando com a prata. Esta é a 12ª medalha do vôlei de praia brasileiro nos Jogos: duas de ouro, sete de prata e três de bronze.
O número ainda aumentará para 13 medalhas na madrugada de sexta-feira (19.08), já que Alison e Bruno Schmidt estão na decisão do torneio masculino, contra os italianos Nicolai e Lupo, às 00h. Entre as mulheres, esta é a sétima medalha conquistada desde a entrada do esporte no programa olímpico (confira a lista abaixo).
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Bárbara falou sobre o orgulho da conquista e a dedicação durante os quatro anos do ciclo olímpico.
“Foi mágico, incrível. Essa prata tem um sabor muito especial para nós. Foi a estreia da nossa equipe nos Jogos, estávamos com uma expectativa muito positiva pelo trabalho que vínhamos fazendo, pela entrega. As alemãs jogaram melhor na final, foram superiores, mas chorei tanto pelo fato de colocarmos para fora toda adrenalina, pressão, tudo que vivemos em função deste grande torneio. Uma sensação de gratidão muito grande”, destacou a carioca.
Ágatha fez uma análise do forte vento e da atuação das alemãs na briga pelo ouro.
“Entrou um vento forte, do nada. No aquecimento não tinha nada. Ficamos na dúvida se mantínhamos a estratégia, se usávamos o vento. Elas conseguiram manter a virada de bola, nós tivemos mais dificuldade. A defesa, o ponto de contra-ataque, é um bônus, mas é preciso manter o ataque. Elas mereceram. Jogaram bem, souberam controlar a partida”, disse a paranaense, que completou.
“A gente está muito feliz, conquistamos a prata. O caminho para chegar em uma edição dos Jogos, depois para chegar na decisão e conquistar uma prata é incrível. Tanto suor, entrega, abdicação. Não tem como comemorar. Quero celebrar com a família, amigos, minha equipe. Pessoas que tiveram que doar um pouco da vida para estarmos aqui”.
Esta foi a primeira participação olímpica de Ágatha e Bárbara. A campanha das brasileiras contou com duas vitórias e uma derrota na fase de grupos. Depois embalaram e eliminaram duplas da China, Rússia e conseguiram a primeira vitória sobre a tricampeã olímpica Kerri Walsh, que ficou com o bronze ao lado de April Ross.
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O time alemão teve domínio em dois fundamentos importantes. Sacaram melhor, anotando três aces, e bloquearam mais, fazendo sete pontos no fundamento. As brasileiras não pontuaram no saque e anotaram um bloqueio, além de terem cedido mais pontos em erros.
O Jogo
As brasileiras começaram ligadas, abrindo 3 a 1 com bom bloqueio de Ágatha sobre Kira. A alemã deu o troco e empatou no mesmo fundamento, devolvendo o block. Um ponto que sacudiu a arquibancada em Copacabana abriu 6 a 4 para o Brasil, após longo rally, com grandes defesas dos dois lados. Pouco depois, um erro de ataque de Bárbara e um ponto de saque de Laura viraram o placar para a dupla alemã: 7 a 6.
As duas equipes não baixavam a guarda e as alemãs foram para o tempo técnico vencendo por apenas um ponto. O Brasil virou com dois pontos de Ágatha, em duas bolas de cheque. O vento forte fazia com que os times alternassem constantemente a liderança. Em ataque de Kira, no ‘lado bom’ do vento, as alemãs abriram 15 a 13, forçando pedido de tempo do Brasil.
Kira conseguiu bom bloqueio, Bárbara errou uma largada e a vantagem do time europeu subiu para quatro pontos: 17 a 13. As brasileiras brigaram e chegaram a reduzir para um ponto de diferença, mas as alemãs mantiveram a calma e fecharam no segundo set point que tiveram, em bola colocada de Laura Ludwig na diagonal: 21 a 18 no primeiro set.
As alemãs começaram bem no segundo set, abrindo 4 a 1 em dois bons bloqueios de Kira Walkenhorst. Quando as alemãs abriram a vantagem para 5 a 1, o time brasileiro pediu tempo no duelo. Ágatha virou boa bola de segunda, mas Kira levantou outro ‘paredão’ contra Bárbara e deixou a vantagem na casa dos quatro pontos.
A vantagem do time alemão na parada técnica era de 13 a 8. As brasileiras lutaram por cada ponto, reduziram para três pontos em contra-ataque de Ágatha, largando sobre o bloqueio. O time europeu conseguiu aumentar com bom saque de Laura, anotando 18 a 13. Um bloqueio de Kira deu o ponto da medalha às alemãs, que fecharam na segunda tentativa, após saque errado de Bárbara: 21 a 14, em 43 minutos.
MEDALHAS DO VÔLEI DE PRAIA BRASILEIRO NOS JOGOS:
OURO – Jackie Silva/Sandra Pires (Atlanta-1996) e Ricardo/Emanuel (Atenas-2004)
PRATA – Adriana Samuel/Mônica Rodrigues (Atlanta-1996), Adriana Behar/Shelda (Sydney-2000), Ricardo/Zé Marco (Sydney-2000), Adriana Behar/Shelda (Atenas-2004), Fábio Luiz/Márcio Araújo (Pequim-2008), Alison/Emanuel (Londres-2012) e Ágatha/Bárbara Seixas (Rio-2016)
BRONZE – Adriana Samuel/Sandra Pires (Sydney-2000), Ricardo/Emanuel (Pequim-2008) e Juliana/Larissa (Londres-2012)
HISTÓRICO: ÁGATHA E BÁRBARA
A carioca Bárbara e a paranaense Ágatha firmaram parceria no meio da temporada 2011, portanto, a mais longa entre as quatro duplas brasileiras nos Jogos Rio 2016. O entrosamento dentro e fora de quadra resultou na conquista do Circuito Brasileiro nas temporadas 12/13 e 13/14. O primeiro ouro do time no Circuito Mundial foi no Open de Puerto Vallarta (MEX), em 2014. Naquele ano, terminaram na segunda colocação do ranking geral.
Na temporada seguinte viveram o melhor momento da parceria, conquistando os títulos do Open de Praga (RTC), do Grand Slam de St. Petersburgo (EUA) e o Campeonato Mundial, na Holanda. Ainda se tornaram as campeãs do Circuito Mundial e, na temporada brasileira, ficaram no lugar mais alto do pódio no Superpraia, em Maceió (AL). Os resultados culminaram na classificação olímpica, a primeira participação de ambas.
Ágatha começou a jogar voleibol indoor em Paranaguá, no Paraná, aos 10 anos. Chegou a atuar em clubes como Paulistano (SP) e Banestado (PR) no juvenil. Durante um período de férias em Paranaguá, começou a praticar vôlei de praia. Aceitou participar de um torneio com Shirley, os resultados foram positivos e a brincadeira se tornou profissão.
O salto na carreira aconteceu em 2005, quando convidou a campeã olímpica Sandra Pires para ser sua parceira. Mudou-se para o Rio de Janeiro ao lado de Renan Rippel, atual marido da jogadora e preparador físico da dupla. Outra parceria de sucesso foi ao lado de Shaylyn, irmã da medalhista olímpica Shelda.
Ágatha chegou a cursar um ano de jornalismo, já no Rio de Janeiro, como ‘plano B’, caso a carreira não decolasse. Decolou tanto que a paranaense conseguiu criar um projeto social para mais de 300 crianças em Paranaguá. Elas recebem aulas de vôlei de praia e beachsoccer. Nas horas vagas, a jogadora gosta de visitar a cidade do litoral paranaense, cantar – música sertaneja, de preferência – além de ir à missa. Também toca violão e gosta de ler.
Bárbara, carioca, começou a jogar já no vôlei de praia, na escolinha de vôlei de praia de Jorge Barros, o Jorjão, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Desde cedo já era considerada uma joia do vôlei, ganhando três mundiais de base. Chegou a atuar por pouco tempo na quadra, no Flamengo, mas fixou-se na praia.
Jogou com Vivian, Neide e Leila. No meio de 2010, passou uma temporada na Turquia, onde conquistou o titulo nacional em um torneio de vôlei de praia indoor. No retorno ao Brasil, passou a ter Ágatha como parceira, A carioca chegou a cursar os primeiros períodos de medicina, mas deixou o curso para se dedicar integralmente ao esporte. Nas horas vagas, gosta de sair para jantar com o marido, ler e ver filmes.
Fonte: Confederação Brasileira de Voleibol (CBV)